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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Carmem Verônica: "Hospitais, escolas, tudo isso tinha que ser aos moldes da Fifa, porque a Fifa dita regras aqui”

Atriz da Rede Globo fala do trabalho na novela "Sangue Bom" e da emoção de participar de um filme que foi premiado doze vezes. Além disso, ela  se diz favorável às manifestações e critica a presidente Dilma Rousseff (PT)



Marcos Bulques
Rio de Janeiro

O dia não estava nem quente, nem frio. A temperatura estava agradável. Chego em um prédio no Leblon,  bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. Pelo porteiro, minha presença é anunciada. Vou pelo elevador. No oitavo andar sou recebido pelo Shing, um pequinês preto que fez as honras da casa. De repente, muito chique, bem penteada e maquiada surge Carmem Verônica, atriz que faz sucesso na televisão brasileira que neste mês completou 80 anos. Ela está atualmente no ar na Rede Globo como “Carmita“ na novela “Sangue Bom”. Para ela, foi um grande presente interpretar essa personagem. “Foi uma surpresa muito agradável, antes mesmo de começar a gravar Sangue Bom. Me telefonaram dizendo que tinha um papel que era minha cara, não sei se é porque a personagem é uma velha ou eu estou velha mesmo (risos). Logicamente é um papel humorístico, é uma senhora hilária, já casou 17 vezes e gosta de garotão, então no contexto da novela esse é um núcleo de humor, sendo que o outro núcleo de humor está com a Marisa Orth, que é excelente atriz e eu amo de paixão. A novela é muito de jovens, então pessoas com mais de 15 anos, digamos (entre risos), estamos eu e Ioná Magalhães. Estou muito contente”, conta.

Carmem Verônica em seu apartamento no Leblon. Ao fundo, uma foto ousada do início da carreira.

A comédia sempre esteve presente na vida da atriz que normalmente tira um sorriso e leva a alegria para o público. Recentemente Carmem Verônica fez um filme ao lado de Marcos Palmeira e Nathalia Timberg chamado “Vendo ou Alugo”, que levou 12 prêmios na 17ª edição do Cine PE, Festival do Audiovisual, em Olinda, PE. “O filme é muito engraçado, onde tem uma ex-embaixatriz, que é viúva e tinha uma mansão. Então gravamos numa casa bem antiga no bairro do Leme, aqui no Rio, onde viviam como se fosse uma comunidade, em um morro que com o tempo se tornou uma favela em volta e a ex-embaixatriz continuou ali, devendo impostos e não pagava. O advogado cobrando, cobrando e a ex-embaixatriz vivendo como se nada tivesse acontecendo. O negócio dela era fazer ginástica na praia em frente ao Copacabana Palace e jogar com três amigas dela, que eram chamadas de tartarugas, que são as atrizes Dayse Lúcidi, Ilka Soares e eu. Mas acho que todos tem um papel importante porque o elenco não é grande , é meio compacto, porém excelente”, explica.

A atriz em seu apartamento no Leblon, Rio de Janeiro. Detalhe: O quadro com seu rosto pintado a mão. 


Entre risos, da ficção passamos para a realidade. A atriz deu sua opinião diante do caos que vivemos frente as manifestações que levou a população para as ruas de inúmeras cidades pelo país. “Os 0,20 centavos foi a gota para o povo explodir e dizer que não aguenta mais. Particularmente eu acho o brasileiro muito acomodado. Só que foi indo, foi indo e explodiu. A gente paga imposto e não temos ônibus suficiente nem qualidade de condução suficiente. A sua presidenta, a minha, a nossa e infelizmente a do Brasil, disse que vai fazer um trem-bala, mas não tem nem aquele trem que íamos para São Paulo, o corujão, que o Vinícius (de Moraes) chamava de corujão ou o trem dos covardes, para quem tinha medo de viajar de avião. Eu ia muito quando fazia programa em São Paulo. Não tem nem esse. Realmente eu não acredito em nada que fazem aqui, porque o dinheiro é tão alto nessas comissões. Ao invés de fazer um prédio decente, eles fazem um prédio que antes de inaugurar ele já caiu, porque ao invés de cimento botam areia. Então eu não posso acreditar nesse país, que



Na sala de seu apartamento no famoso bairro do Leblon

 tem político pegando avião com a família para ver o jogo (O presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), admitiu que foi de Natal ao Rio de Janeiro em voo da FAB e levou parentes e amigos para assistir o final da Copa das Confederações) mas você paga a passagem aérea, eu pago, o brasileiro paga, você contribui para ter rua sem buraco. Eu, por exemplo, não conheço rodovia aqui no Brasil. Eu conheço nos Estados Unidos, na Europa, em muitos lugares do mundo que eu já fui eu conheço rodovia. Aqui temos uma rua, nem avenida é. E é uma merda, no bom português. E tudo isso porque estão nos roubando. Por isso eu sou a favor das manifestações. Lógico que há baderneiros, mas as próprias pessoas que fazem as passeatas se indignaram. Eu estou plenamente de acordo, espero que não esmoreçam, porque agora todos começaram a correr para fazer as coisas, mas como não há dinheiro para isso, quem vai acabar pagando as contas como sempre somos nós. Se fossemos pagar uma coisa que haveria um retorno bom, até estaria de acordo”, disse.





A atriz mostra-se revoltada com os gastos para a Copa de 2014. “Hospitais, escolas, tudo isso tinha que ser aos moldes da Fifa, porque a Fifa dita regras aqui. Tinha que fazer estádio lá no Amazonas? Para os índios fazerem ocas depois lá dentro? Claro que estão ganhando uma nota por cima disso. Eu acho tudo válido, desde que você reivindique para o bem geral. Agora, pedir médicos de fora? Pois que aumentem os salários dos médicos daqui. Veja o professor, ganhar uma merreca e estudando o que o professor estuda, dando aulas em vinte escolas para poder ter um mês decente. Que merda é essa? Mas tudo bem, eu estou com Deus, esperando que, como diziam, que esse seria o país do futuro, eu espero ter mais anos de vida para ver um futuro melhor”, conclui.



Carmem Verônica durante entrevista 

Carmem Verônica durante entrevista 





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